Eleito em 2018 e reeleito em 2022, apoiando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador Ibaneis Rocha (MDB) tenta demarcar seu lugar no espectro ideológico para se manter viável na disputa eleitoral de 2026. Apesar de ter apoiado a extrema direita nas disputas nacionais, Ibaneis tem visto seu projeto de disputar o Senado ser ameaçado pelo próprio PL, que tem três pré-candidatos no DF: o senador Izalci Lucas (candidato à reeleição), Michele Bolsonaro (esposa do ex-presidente) e a deputada Bia Kicis.
Na última semana, Ibaneis Rocha (MDB) participou de um debate sobre a Reforma Tributária, promovido pelo Grupo de Lideranças Empresariais (Lide/DF), e declarou uma frase que parece óbvia: “Eu sou um governador de direita. Não tenho muito alinhamento com a esquerda”.
O gesto foi uma forma de o governador tentar demarcar sua presença no espectro ideológico da direita no DF, conforme analisou a cientista política Michelle Fernandez, professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (IPOL/UnB).
“Essa reafirmação do governador sobre seu lugar no espectro ideológico tem, sim, relação com os anseios para a próxima eleição. E essa colocação dele é voltada ao eleitor de direita", avaliou Michelle Fernandez, lembrando que, como o Distrito Federal não tem eleições municipais, as figuras políticas precisam se posicionar a longo prazo, com movimentações e falas de efeito como essa de Ibaneis Rocha.
A cientista política lembrou que, apesar de Ibaneis sempre ter apoiado Bolsonaro, ele está no MDB, que é um partido de centro, e que, inclusive, compõe a base do governo Lula no Congresso. Outra figura que sofria a mesma pressão por não estar em um partido assumidamente bolsonarista era Izalci Lucas, que deixou o PSDB e se filiou ao PL. Ainda assim, a deputada Bia Kicis já avisou que quer disputar uma vaga ao Senado em 2026, quando haverá duas cadeiras em disputa pelo DF.
Além dessas declarações e de contar com parlamentares bolsonaristas em sua base na Câmara Legislativa, o governador do DF tem buscado embates retóricos com o governo federal, conforme lembra o deputado distrital Gabriel Magno (PT).
“O Ibaneis desconhece o papel importante do governo federal ao dar declarações de embate”, destacou o deputado, lembrando que, em meio à crise dos incêndios no DF, o governador deu declarações criticando o presidente Lula, apesar de todo o apoio do governo federal no combate ao fogo. “O governador Ibaneis tem cometido vários erros políticos e temos um caos na saúde, na educação, no transporte, nenhum apreço pelo meio ambiente, e o desemprego aqui é o dobro da média nacional. Além dos escândalos de corrupção”, destacou Magno.
Frente de Esquerda
O deputado Gabriel Magno ainda criticou outra parte da fala de Ibaneis, nesse evento no Lide, em que o governador diz que a população do DF é de direita.
“Brasília nunca foi de direita, pelo contrário, tem uma história de garantia de direitos e uma esquerda organizada”, rebateu Magno, destacando que o diálogo do grupo de partidos progressistas, que fazem oposição a Ibaneis e estão na base do governo Lula, tem avançado.
Na última semana, líderes do PT, PDT, PSB, PSOL, PCdoB, PV, Rede e Cidadania realizaram mais um encontro, no qual dialogam sobre a unidade e a possibilidade de composição para o pleito de 2026. Com a provável renúncia de Ibaneis no início de 2026 para disputar o Senado, o Palácio do Buriti deverá ser comandado pela então vice-governadora Celina Leão (PP), que já confirmou sua pretensão de disputar o governo. A senadora Damares Alves (Republicanos) também já demonstrou intenção de disputar o governo. Assim, os partidos progressistas querem chegar a esse pleito unidos para terem mais chances nas disputas majoritárias para o Governo e Senado.
Ministro Alexandre Padilha se reúne com partidos progressistas do DF / Foto: Divulgação
“Os oito partidos têm lideranças muito importantes, com muita base social e articulada com o secretário de Relações Institucionais do governo Lula [Alexandre Padilha], que tem feito tanta coisa também para o Distrito Federal e para todo o país”, enfatizou Magno.
O encontro contou com a participação de Padilha, do presidente do Iphan, Leandro Grass (candidato a governador em 2022), da senadora Leila Barros (PDT), da deputada federal Érika Kokay (PT-DF), do deputado federal Reginaldo Veras (PV), do ex-senador Cristovam Buarque (presidente do Cidadania-DF) e dos deputados distritais Max Maciel (PSOL), Fábio Félix (PSOL) e Gabriel Magno.
A cientista política Michelle Fernandez avaliou que essa articulação do campo progressista no DF é necessária e precisa ser feita o quanto antes para que os atores políticos cheguem em 2026 fortalecidos e possam ser efetivamente competitivos.
“É fundamental que o campo progressista se articule, se prepare e chegue a 2026 maduro, com um grupo político bem articulado, para que possa, de fato, participar dessa eleição de maneira consciente”, analisou Michelle, destacando ainda que o grupo da direita vem se movimentando para o pleito.
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