“Ter sido a única mulher eleita em Cascavel foi uma grande surpresa para mim.” As palavras da petista Bia Alcântara refletem a mistura de vitória e preocupação com que acompanhou o resultado das eleições de outubro passado. Na tarde de ontem (19), ela e os outros 20 parlamentares que passarão a compor a próxima legislatura foram diplomados pela Justiça Eleitoral do Paraná. A entrega dos diplomas também foi realizada aos cargos de prefeito, vice-prefeito e suplentes.
A militante de esquerda de 22 anos entra para história como a mais jovem vereadora do município. Em entrevista ao Brasil de Fato PR, ela comenta a diminuição de representatividade no Legislativo local. “Eu tinha convicção de que Cascavel jamais regrediria quanto a representatividade feminina na Casa. Hoje, temos duas mulheres na legislatura, e eu acreditava que seria possível, ao menos, dobrar essas cadeiras ocupadas por mulheres”, afirma.
Para Bia, a qualidade das candidaturas femininas apresentadas durante o último pleito evidenciava um potencial pouco explorado. “Percebi aqui em Cascavel mulheres candidatas muito bem qualificadas em todos os espectros políticos. O resultado dessa eleição mostrou o quanto precisamos lançar mais candidaturas e trabalhar para conscientizar os eleitores – homens e mulheres – sobre a importância de votar em mulheres”, defende.
Bia ressalta que a presença feminina na política vai além da representatividade simbólica: é essencial para a construção de políticas mais inclusivas e diversificadas. “Precisamos estar na Câmara para pensar em políticas para nós, políticas para nossas famílias e para trazer novas perspectivas de mundo. Isso é fundamental”, explica.
Ela também defende a inclusão de jovens na política como forma de ampliar os olhares sobre as questões públicas. “É fundamental termos diferentes olhares na política. As mulheres trazem uma perspectiva muito diferente da dos homens, assim como os jovens trazem uma visão renovada. Essa pluralidade é essencial para melhorar nossa sociedade.”
No mandato que se inicia, Bia quer trabalhar para fortalecer a participação feminina na política local. “Quero desenvolver projetos na cidade que incentivem mais mulheres a se envolver politicamente, para que na próxima eleição possamos conquistar mais cadeiras femininas.”
A futura vereadora também aponta diferenças no tratamento das mulheres pelos espectros ideológicos. “No PT de Cascavel, as quatro primeiras colocadas foram mulheres, e minhas suplentes também são mulheres. Isso mostra que quem vota na esquerda e no PT busca representatividade. Já nos partidos de direita, isso não é uma prioridade. Eles buscam outros perfis”, analisa.
Bia acredita que essas diferenças refletem questões ideológicas mais profundas. “Algumas ideologias barram a entrada das mulheres na política porque, para elas, a mulher não deve ocupar esse espaço. Por isso, não é coincidência eu ser a única mulher eleita e ser de esquerda. Meu público busca representatividade feminina e ideias alinhadas às minhas propostas.”
Apesar das diferenças partidárias, a parlamentar defende que a luta pela presença feminina na política deve ser transversal. “Precisamos conversar sobre a importância de as mulheres estarem presentes, independentemente da ideologia. A política precisa ser um espaço em que as mulheres não sejam exceção, mas regra. É um trabalho que exige esforço coletivo e contínuo, mas que é essencial para mudar o cenário atual”.
Para o mandato que se inicia em 1 de janeiro de 2025, ela garante que sua atuação será pautada “pela defesa da educação, da justiça social e pela garantia de voz e vez aos que nunca foram ouvidos”.