Um ato em frente à embaixada dos Estados Unidos, em Brasília, marcou o Dia da Visibilidade Trans nesta quarta-feira (29). A manifestação teve como objetivo denunciar os ataques aos direitos da população LGBT+, negros e pessoas com deficiência promovidos pelo governo Trump.
O ato foi organizado pela Rede Trans Brasil, Estruturação – Grupo LGBT+ de Brasília, Centro Brasiliense de Defesa dos Direitos Humanos (CentroDH) e Instituto Igualdade e Fraternidade (INPDH). Segundo os movimentos, as recentes medidas e discursos de ódio, em especial contra pessoas trans, evidenciam uma estratégia de pânico moral para minar a luta por igualdade e justiça social.
Para Eva Oliveira, do Coletivo Força Trans, o Dia da Visibilidade Trans reforça, para a sociedade, que pessoas trans existem e que podem ocupar os espaços que desejam. “Nós somos seres humanos iguais, queiram eles, sim, ou não. Nós estamos aqui reivindicando os nossos direitos que eles tomaram e querem tomar mais ainda. Então, isso não vai existir porque o nosso governo tem democracia”, diz Eva.
Cristiany Beatriz, presidenta do UniTrans Goiás, reforça que a luta é cotidiana para que a identidade de gênero da população trans seja respeitada. “Que nós possamos sair desse triste ranking de país que mais mata a população trans e travesti no mundo. Que o direito maior do ser humano, que é o direito à vida, seja respeitado e que possamos ir e vir com segurança. Que possamos sair de casa de manhã sem o receio de não voltarmos à tarde”, relata.
Dossiê
Em 2024, 105 pessoas trans foram mortas no Brasil. Apesar de o país ter registrado 14 casos a menos que em 2023, o país segue, pelo 17º ano consecutivo, como o que mais mata pessoas trans no mundo. Os dados são do Dossiê: Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024: da Expectativa de Morte a um Olhar para a Presença Viva de Estudantes Trans na Educação Básica Brasileira, da Rede Trans Brasil.
“Esse ranking que o Brasil, infelizmente, ainda carrega, de país que mais assassina pessoas travestis e transexuais, também tem, em sua responsabilidade, a ausência de políticas para a saúde mental dessa população, o que faz com que essas pessoas morram socialmente também, quando são excluídas do espaço de suas famílias, quando não têm acesso à escola”, afirma Rafael Carmo, da Rede Trans Brasil.
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“Esperamos que o Brasil possa ser um país que fomente positividade para essa população e deixe de pertencer ao ranking de país que mais mata a população trans no mundo. Essa manifestação também é para que possamos trazer visibilidade para esse tema, para dizer que nossas vidas importam, que precisamos de políticas públicas efetivas, que precisamos acessar a saúde, a educação e ter uma vida digna como qualquer outro cidadão ou cidadã brasileira”, completa.
No ato, Nazaré Brito, do Mães pela Resistência, também lembrou que, como mãe de uma pessoa gay, é difícil saber e imaginar os perigos que o filho corre diariamente. “Todos os dias meu filho sai de casa para ir trabalhar ou para ir para a escola e eu não sei se ele pode voltar, ou se o meu filho pode ser espancado pelo simples fato de ser o que ele é”, desabafa.
Nazaré Brito, do Mães pela Resistência, também lembrou que, como mãe de uma pessoa gay, é difícil saber e imaginar os perigos que o filho corre diariamente / Foto: Rafaela Ferreira/Brasil de Fato DF
Governo reacionário nos EUA
O ato desta quarta (29) foi para apoiar a população em vulnerabilidade dos Estados Unidos. Michel Platini, presidente do Estruturação. A manifestação foi um chamado à resistência contra os retrocessos que ameaçam conquistas históricas dos direitos humanos, como explica os movimentos LGBTQIA+ de Brasília.
“Nós vamos nos levantar sempre que, em qualquer lugar do mundo, ameaçarem os nossos direitos. Não é qualquer coisa, é a nossa vida que está em jogo. Não é algo simples, é a nossa existência. Hoje, é nos Estados Unidos, um lugar onde vimos avançar muitas políticas. Amanhã, pode ser aqui, depois, pode ser na Argentina”, reforça Platini.
Também do Estruturação, Rodrigo Vieira, afirma que o ato simbolizou um envio de forças para a comunidade LGBTQIA+ dos EUA. “Eles não podem mais dizer para qualquer outra pessoa que a gente não existe, a gente existe. A nossa pauta é a luta por direitos, viver bem, saúde e por igualdade. Então, nós só queremos isso. Parece pequeno, mas nós só queremos isso e eles querem tirar de nós", diz.
Na segunda-feira (20), o republicano Donald Trump foi empossado na Casa Branca. Em seu retorno à presidência, Trump adotou a retórica da extrema direita de forma explícita. Alguns temas como raça e gênero, abordados de forma sutil em 2017, foram atacados diretamente em 2025, tornando explícito o posicionamento do mandatário.
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Um dos exemplos foi em seu discurso de campanha, em que o presidente anunciou que irá encerrar a "política governamental de raça e gênero em todos os aspectos da vida pública e privada". "Vamos financiar uma sociedade que não vê cores e é baseada no mérito. A política oficial do governo dos Estados Unidos é a de que só existem dois gêneros, homem e mulher", disse o presidente americano.
Também presente no ato, o deputado distrital Fábio Felix (Psol-DF) reforça que a presença da população trans na manifestação informa que não será tolerado uma ofensiva global. “Agora, essa ideia começa a se espalhar, porque vem do governo Trump. Depois, a extrema direita, aqui do Brasil, começa a apresentar uma série de projetos nas Câmaras Municipais, nas Assembleias Legislativas e a gente não vai tolerar que esse tipo de coisa aconteça. Primeiro, porque nós estamos ocupando os espaços de poder também. Estamos lá na Câmara Legislativa, nas assembleias legislativas, no Congresso Nacional”.
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“Esse é o nosso compromisso e a importância de estar aqui para dar um recado internacional, porque vamos nos organizar no Brasil, na América Latina e no mundo inteiro para enfrentar o que o trumpismo está trazendo hoje. Hoje, ele está aí, aparece com força, está só começando, mas a nossa resistência será organizada, e não tenho dúvida de que temos condições de derrotar esse projeto político que está no poder", finaliza o deputado.
Maior bandeira trans
Na manhã desta quarta-feira (29), também foi hasteada a maior bandeira trans do Brasil na plataforma superior, entre o Conic e a Rodoviária do Plano Piloto. Para Platini, a ação foi um grito de resistência. "O ato demonstra a presença e a luta diária da população trans para construir uma sociedade onde seus direitos sejam respeitados e garantidos", diz.
Ainda também foi lançado o Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024, na Biblioteca Demonstrativa de Brasília. O evento, apresentado por Sayonara Naider Bonfim Nogueira e Tathiane Aquino Araújo, discutiu a expectativa de vida da população trans e a necessidade de um olhar voltado para a inclusão de estudantes trans na educação brasileira.
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Os eventos fazem parte das ações da Semana da Visibilidade Trans Hanna Suzart, e reforçam a importância da visibilidade, da inclusão e da luta contra o preconceito. O Dia da Visibilidade Trans é celebrado no Brasil desde 2004 e marca a resistência de uma população historicamente marginalizada, mas que segue lutando por seus direitos e por uma sociedade mais justa e igualitária.
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