Em resposta à política de deportações em massa de Donald Trump com cidadãos da América Latina, psicólogas e psicólogos mineiros repudiaram a violação sistemática de direitos humanos sofrida por brasileiros repatriados dos Estados Unidos. O posicionamento foi publicado pelo Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), na terça-feira (28).
O órgão também se comprometeu a reforçar a orientação de profissionais da psicologia para atender às pessoas deportadas, e também promoverá articulação da defesa dos direitos humanos dessas vítimas em nível municipal e estadual.
“Nos solidarizamos com todas as pessoas sobreviventes, pais, mães, filhas, filhos que tiveram seus direitos violados, sua liberdade cerceada e seus sonhos ceifados por uma ação antidemocrática e ilegal. Desejamos que todas as pessoas que passaram por essa experiência possam se recuperar e superar esse episódio para seguirem com suas vidas”, reiterou a instituição, em nota.
Processo violento
Na última sexta-feira (24), um voo com destino à capital mineira pousou em Manaus com cerca de 88 brasileiros a bordo. Segundo a Polícia Federal (PF), os passageiros deportados estavam sendo transportados algemados.
De acordo com a Agência Brasil, em razão da soberania nacional, o governo brasileiro, comandado por Lula (PT), determinou a retirada das algemas e enviou uma aeronave da FAB para transportar os brasileiros até o destino final.
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Apesar da política de deportação ter sido endurecida pelo governo Trump, desde 2019, 11.679 brasileiras(os) chegaram ao aeroporto de Confins, em Minas Gerais, deportadas(os) dos Estados Unidos.
“O nosso posicionamento é que os países podem ter suas políticas migratórias mas nunca violar os direitos humanos de ninguém”, afirmou a ministra dos direitos humanos Macaé Evaristo, ao recepcionar os brasileiros em Confins.
“A gente não pode suportar a violação dos direitos humanos e o que aconteceu nesse voo foi a violação dos direitos dos brasileiros”, acrescentou ela, em vídeo divulgado nas redes sociais.
A ministra anunciou, também, que o governo federal criará um posto de acolhimento humanitário em Confins (MG), considerando que poderão haver outras deportações.
Escuta sensível
Fornecer uma escuta sem julgamento é um dos primeiros passos para atender as pessoas deportadas, segundo o conselheiro do CRP-MG Henrique Galhano, que integra a Comissão de Orientação em Psicologia e Migração na instituição.
“A partir da história que a pessoa conta, é possível compreender os reais motivos que a levaram a fazer a migração para outro país de forma tão precária. Temos que estar preparados para dar conta de tamanho sofrimento que é trazido”, lembra o psicólogo, em recado direcionado à categoria.
Segundo ele, a primeira questão perceptível nesse processo é compreender um projeto de vida que foi interrompido, ao mesmo tempo em que vínculos foram fragilizados ou rompidos devido ao processo de migração.
O conselheiro lembra que os brasileiros deportados retornam ao Brasil em um processo violento que impacta, sobretudo, seus bens materiais, o que gera um grande efeito subjetivo de desesperança.
“É a economia de toda uma vida e recuperar isso vai demorar um tempo e muitas vezes as pessoas podem acabar desistindo de correr atrás dessa reconstrução”, destaca Henrique, ao lembrar que, desses brasileiros repatriados, grande parte voltou com seus bens em sacolas de plástico.