A sanção da Reforma Tributária marca um dos capítulos mais significativos na história econômica recente do Brasil. O setor de serviços, que responde por cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e emprega milhões de trabalhadores, estará no epicentro dessa transformação. Com uma das cargas tributárias mais altas entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil enfrenta agora o desafio de implementar mudanças que prometem simplificar o sistema e promover competitividade. Mas como isso impactará diretamente o setor de serviços?
Simplificação tributária: promessa ou realidade?
Um dos pilares da reforma é a simplificação do caótico sistema tributário brasileiro. Hoje, empresas do setor de serviços lidam com uma teia de tributos como ICMS, ISS, IPI e PIS/COFINS, que variam conforme o estado e o município. A criação do imposto sobre bens e serviços (IBS) e da contribuição sobre bens e serviços (CBS) unifica tributos, prometendo reduzir a burocracia. Na prática, isso pode significar menos tempo gasto com conformidade fiscal e mais foco no crescimento do negócio, especialmente para pequenas e médias empresas que sofrem com custos desproporcionais de compliance.
O peso das alíquotas unificadas
A unificação das alíquotas do IBS traz uma faca de dois gumes. Por um lado, elimina a guerra fiscal entre estados e municípios, promovendo maior previsibilidade. Por outro, ao equalizar alíquotas para todos os serviços, setores intensivos em mão de obra, como saúde, educação e tecnologia, podem enfrentar aumento de carga tributária. Estudos indicam que esses segmentos hoje pagam alíquotas efetivas mais baixas que a média e, com a reforma, terão desafios em repassar custos ao consumidor sem comprometer a demanda.
Serviços essenciais em pauta
Setores como educação e saúde, considerados essenciais, estão no centro do debate. A reforma prevê desoneração parcial ou total para esses serviços, uma tentativa de equilibrar acesso e custo. Isso é especialmente relevante em um país onde o acesso à educação de qualidade e à saúde ainda é marcado por profundas desigualdades. No entanto, a operacionalização desse benefício fiscal exige clareza e fiscalização para evitar distorções.
Atração de investimentos no radar
A simplificação tributária e maior previsibilidade no sistema têm potencial para atrair investidores, especialmente estrangeiros. Para o setor de serviços, isso pode significar expansão de operações, inovação tecnológica e geração de empregos. A competição com outros países da América Latina por investimentos externos se intensifica, e o Brasil precisa mostrar que essa reforma é mais do que um texto legislativo: é uma estratégia para crescimento sustentável.
Os desafios do caminho
A transição para o novo sistema não será simples. A adaptação tecnológica para adequação à nova legislação, treinamento de equipes e custos iniciais são barreiras que empresas, especialmente as menores, precisarão enfrentar. Além disso, setores que hoje se beneficiam do sistema tributário atual podem resistir às mudanças, dificultando a implementação plena da reforma.
Um setor em transformação
A Reforma Tributária não é apenas uma mudança de regras fiscais; é uma oportunidade de reposicionar o Brasil como um país mais competitivo e eficiente. O setor de serviços, essencial para a economia, será desafiado a se reinventar. Com a promessa de um sistema mais simplificado e justo, a reforma tem potencial para reduzir desigualdades, atrair investimentos e ampliar o acesso da população a serviços de qualidade. No entanto, o sucesso dessa transformação depende de uma implementação cuidadosa, diálogo contínuo e comprometimento em corrigir as inevitáveis lacunas que surgirão no processo.
*Renan Gomes de Oliveira é contador com mais de 11 anos de experiência em Finanças e Contabilidade, com MBA em Controladoria e Finanças. Especialista em análise de demonstrações financeiras, normas internacionais de contabilidade (IFRS), legislação tributária e auditorias internas e externas.