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Natal na contramão capitalista

Pensar no coletivo é ter enraizado em si que é "Nós por Nós" sempre

Eu ia começar essa coluna afirmando que natal e fome não combinam na mesma frase. Mas lembrei que na sociedade capitalista a fartura de uns significa a escassez de outros. A fome, ou o que hoje chamamos de insegurança alimentar, é uma realidade do povo brasileiro. Num país em que se morre de fome, me pergunto qual o sentido de um senhor europeu, branco, com roupas de frio, nomeado de Papai Noel, incentivar o consumismo e a superficialidade capitalista.

Não são raras as histórias de cartinhas de crianças endereçadas ao Polo Norte pedindo “coisas” como paz mundial ou um mundo melhor. Mas essas não são respondidas. Primeiro, porque uma fantasia não é capaz de realizá-las; segundo, porque essa é uma tarefa coletiva; e, terceiro, porque não convém aos interesses do capital.

Apesar das inúmeras tentativas da sociabilidade capitalista de omitir a realidade do povo brasileiro, com vendas e promoções, as iniciativas de solidariedade ativa acontecem em datas como o natal. Pensar no coletivo é ter enraizado em si, o princípio de que é "nós por nós", sempre. Campanhas de arrecadação de presentes, roupas e alimentos sempre aparecem no mês de dezembro. A ideia de proporcionar uma ceia para quem não consegue fazê-la é a concretização de um trabalho coletivo de muita luta.

Em Londrina, uma das iniciativas é destinada às pessoas em situação de rua. Aquelas que, enquanto uns andam pelos centros e shoppings em busca de presentes, elas não são vistas ou lembradas. A ação é organizada pelo Centro Juvenil Vocacional, pelo Projeto Rango e pelo Levante Popular da Juventude e tem como meta distribuir 80 marmitas nas ruas.

A ação tem como nome Rango de Natal e contará com refeição, bebida e sobremesa. Essa pode ser uma entre tantas outras iniciativas populares de enfrentamento à insegurança alimentar. Cozinhas solidárias, hortas comunitárias, arrecadação e distribuição de alimentos. É preciso organizar a classe trabalhadora em ações que a façam mais forte.

Olhar para essa iniciativa me faz acreditar mais no povo e me lembra o quanto o Natal, ou qualquer outro feriado capitalista, precisa ser levado na contramão por nós que lutamos pela construção de uma outra sociedade. Contrariamos a superficialidade do capitalismo com gestos solidários, amorosos e socialistas. Em busca de uma sociedade que seja cuidado, alimento e vida; e que Natal e Fome não se encontrem mais na mesma frase, mesmo que seja para reafirmar um Natal sem Fome.

*Maria Clara: assistente social e militante do Levante Popular da Juventude


Leia outros artigos do Levante Popular da Juventude no Paraná em sua coluna no Brasil de Fato PR


**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

 

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