O ano de 2024 foi um marco importante para a restauração ambiental no Brasil. Um grande passo foi dado para que o país avance no cumprimento dos compromissos internacionais firmados durante a Conferência do Clima de Paris, em 2015. Entre esses compromissos, estão as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que aliam ações concretas de enfrentamento às mudanças climáticas à promoção da biodiversidade.
Nesse contexto, o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg 2025-2028), revisado e lançado recentemente, reforça a meta nacional de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030, em consonância com o Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal, que busca restaurar 30% das áreas degradadas mundialmente.
O lançamento nacional do Planaveg (2025-2028) ocorreu no último dia 12, na Floresta Nacional de Brasília (Flona). A cerimônia incluiu um plantio com semeadura direta, destacando a importância da valorização das sementes nativas e das comunidades na restauração de ecossistemas. A escolha da Flona, severamente impactada por incêndios em setembro deste ano, evidenciou a urgência da restauração, tornando o evento um marco de ação e resiliência.
Ter o Cerrado, bioma conhecido como berço das águas e considerado um dos mais ameaçados do Brasil, como palco do lançamento de um documento tão importante reforça a relevância das formações não florestais, como campos e savanas, demonstrando que a restauração vai muito além de plantar árvores.
Um olhar mais atento para os ecossistemas não florestais — como o Cerrado e a Caatinga —, muitas vezes negligenciados em projetos de restauração, foi, inclusive, destacado nas contribuições submetidas pelo Instituto Socioambiental (ISA), Rede de Sementes do Cerrado (RSC) e Agroicone durante a consulta pública sobre a segunda edição do Planaveg, realizada em outubro deste ano. Essas três instituições desempenham um papel fundamental em iniciativas como o Redário e Caminhos da Semente, que visam fortalecer a cadeia de sementes nativas e implementar projetos de restauração utilizando a técnica de semeadura direta, reconhecida por sua eficiência e menor custo no restabelecimento da vegetação.
:: Cerrado: Semeando resiliência e esperança em tempos de destruição ::
Além de dar visibilidade ao Cerrado, o plantio por muvuca feito durante o evento teve um grande simbolismo, uma vez que não só reconheceu a semeadura direta como um método eficiente para viabilizar a restauração em larga escala no Brasil, mas também reforçou que não há restauração ambiental sem a valorização dos saberes tradicionais e o envolvimento ativo das comunidades locais.
O processo de revisão do Planaveg foi caracterizado pela ampla participação dos diversos atores ligados à cadeia da restauração, durante um ano foram feitas mais de 50 reuniões e seminários técnicos-científicos, com 40 instituições envolvidas, além da importante retomada da Comissão Nacional para Recuperação da Vegetação Nativa (CONAVEG), resultando em um documento robusto e colaborativo. Uma das premissas do documento foi dar protagonismo às comunidades para que sejam mais do que apenas fornecedoras de insumos ou mão de obra, assegurando a participação ativa desses atores em todas as etapas do processo de restauração.
Como bem pontuou Claudomiro Cortes, diretor de restauração da Associação de Coletores Cerrado de Pé, que na ocasião falou em nome das comunidades envolvidas na restauração, é impossível abordar a conservação ou restauração do Cerrado sem levar em conta as pessoas que nasceram e cresceram nos territórios. Essas pessoas possuem um conhecimento único. Ao participarem das decisões, as comunidades se fortalecem, desenvolvem lideranças e assumem o papel de guardiãs da biodiversidade.
Mais que um plano robusto para ampliar os esforços de restauração no país, o Planaveg 2025-2028 reforça o propósito de que a restauração ambiental no Brasil será mais efetiva se realizada com sementes e pessoas. Contudo, colocar esse plano em prática exige a união de instituições públicas, privadas e não governamentais que lutam por um planeta mais verde, além do apoio ativo da sociedade como um todo.
Com 2024 chegando ao fim, para o próximo ano, desejamos que mais pessoas compreendam a importância de combater as mudanças climáticas e reconheçam seu papel na construção de um futuro sustentável e resiliente. Juntos, podemos transformar compromissos em ações concretas que beneficiem o Brasil e o planeta.
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*Anabele Gomes é bióloga, mestre e doutora em botânica, servidora do Departamento de Botânica da Universidade de Brasília e Presidente da Rede de Sementes do Cerrado.
**Maria Antônia Perdigão é jornalista, mestre em Comunicação Social e consultora em comunicação socioambiental. Atualmente, atua como coordenadora de comunicação da Rede de Sementes do Cerrado (RSC).
***Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
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