Ah! Férias de verão na praia! Eu e meus amigos decidimos saborear aquela moqueca de peixe, que para nós mineiros é item raro na dieta. Quando o prato chega, um tempero típico é logo notado por todos: o coentro. Alguns amam, outros detestam. Você sabia que essa diferença de paladar pode ter razões genéticas?
Cada sabor é percebido por nós de forma individual. Nosso cérebro interpreta o gosto de um alimento a partir do cruzamento entre o que é captado pelo nosso paladar e olfato. Na boca e no interior do nariz temos células receptoras que são estimuladas pelas diferentes substâncias presentes nos alimentos. Isso é enviado para o cérebro na forma de impulsos nervosos, e lá é traduzido como uma sensação.
Acontece que isso é mediado por centenas de genes que variam de pessoa pra pessoa. É o que acontece com o coentro, por exemplo.
Essa plantinha possui em suas folhas compostos aldeídos, semelhantes aos encontrados em produtos de limpeza. O gene OR6A2 é o responsável pela percepção desses compostos. Para pessoas com uma variação desse gene que acarreta maior sensibilidade a esses aldeídos, o coentro pode ter gosto de sabão!
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Estudo realizado nos Estados Unidos, em 2012, estimou que cerca de 15% da população daquele país possui essa sensibilidade exacerbada ao coentro. Para as demais, o tempero tem um sabor agradável. Isso pode explicar porque algumas pessoas detestam a plantinha.
Razões culturais
Acontece que essa não é a única explicação. Como já disse no início do texto, para nós mineiros o coentro não é tão utilizado na culinária. Já em estados litorâneos, é bem mais comum sua utilização na alimentação. Logo, a preferência por um ou outro tempero também possui razões culturais.
Isso nos ajuda a entender que podemos aprender a gostar de comer algo se formos educados e acostumados a isso. Ou seja, caso você não seja um grande fã do coentro, isso não quer dizer que você possui a característica genética que eu citei acima. Pode ser só algo que você desenvolveu ao longo da vida mesmo.
A forma como sentimos cheiros e gostos têm uma grande ligação com aspectos emocionais. É comum relacionarmos determinado aroma a um sentimento. Quem não tem um cheiro ou gosto da infância que remete a algum contexto feliz? Por isso, pessoas que nasceram e cresceram na praia têm maior ligação desde a infância com os gostos e cheiros usados na culinária desses locais. Então, terão maior predisposição a amar o coentro.
Um abraço e até a próxima!
Renan Santos é professor de biologia da Rede Estadual de Educação
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