O prefeito eleito de Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD), anunciou os primeiros nomes de seu secretariado na tarde desta terça-feira (26), e, apesar do apoio crítico recebido de setores progressistas durante o segundo turno, em grande parte devido à possibilidade da eleição de Cristina Graeml (PMB), sua gestão está claramente se inclinando à direita, com um forte reforço de aliados do bolsonarismo e representantes do lava-jatismo local.
O partido NOVO, que foi um dos pilares do apoio a Pimentel, consegue um protagonismo significativo na nova administração com a nomeação da vereadora Amália Tortato para a recém-criada Secretaria de Desenvolvimento Humano. Amália, que tem uma proximidade com figuras como Deltan Dallagnol, assume uma pasta estratégica, em uma clara sinalização de que Pimentel deve aprofundar a agenda de austeridade fiscal e privatizações defendida pelo NOVO.
“Esses nomes refletem a seriedade que queremos trazer para Curitiba, com uma equipe técnica e eficiente, que vai trabalhar para resolver os problemas da cidade”, afirmou Pimentel durante o anúncio. No entanto, a entrada do NOVO e de figuras com esse perfil mais à direita também sinaliza uma guinada em relação ao governo de Rafael Greca (PSD), que, embora também tenha sua base conservadora, tinha uma postura mais centrada em temas como a sustentabilidade e o gerenciamento de crise da Covid.
O movimento é um contraponto a tentativa de retórica progressista endossada por Greca após a confirmação da vitória de Eduardo, onde afirmou naquela oportunidade que não via no Eduardo um candidato da direita. ''Ele foi preparado por mim e compreende a necessidade de igualdade para todos, compreende o que fizemos, junto com a Marcia Huçulak na pandemia, a grande força das mesas solidárias gratuitas, de não despedirmos ninguém de mão vazia, damos de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede”, disse.
Fachinello e a reconfiguração da Câmara
Outro nome importante da nova equipe de Pimentel é o vereador Marcelo Fachinello (Podemos), que, ao ser nomeado para a Secretaria de Governo, ganha um espaço significativo na estrutura do poder municipal. Fachinello, conhecido por seu perfil conservador e por sua aproximação com grupos do agronegócio, será responsável por uma pasta estratégica, considerada o "coração" da prefeitura, e uma das mais importantes para articulações políticas. A escolha de Fachinello para o cargo, somada à sua tendência de posicionamentos à direita, indica que Pimentel busca uma gestão mais alinhada com as pautas liberais e conservadoras.
Fachinello deixa a presidência da Câmara Municipal, o que abre espaço para um novo ciclo na Casa. O vereador Tico Kusma (PSD), aliado de Pimentel, é cotado para assumir a presidência, o que também reforça a estrutura política alinhada ao novo governo. A escolha de Fachinello fortalece ainda mais a ideia de que Pimentel está construindo uma base sólida com o centrão e os partidos mais à direita, em detrimento das promessas de um governo mais equilibrado ou progressista.
A ascensão de Paulo Martins
O papel do vice-prefeito Paulo Martins (PL), fiel escudeiro de Jair Bolsonaro, é outro fator importante na reconfiguração da política municipal. Paulo Martins assume a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, ampliando seu protagonismo dentro da gestão municipal. A decisão de Pimentel de dar ao vice um papel tão relevante não é mera coincidência. Martins, que tem um histórico de alinhamento com pautas de direita e com o bolsonarismo, deve exercer uma influência considerável nas decisões relacionadas ao empreendedorismo, políticas de desburocratização e possíveis privatizações. Sua presença no governo reflete a aproximação de Pimentel com um dos setores mais conservadores e liberais do cenário político.
Durante a coletiva, Pimentel ressaltou a importância da expertise de Paulo Martins para impulsionar a economia da cidade, especialmente em tempos de crise e de necessidade de recuperação econômica. No entanto, é inegável que essa escolha também é um reflexo de sua estratégia de fortalecimento da base política que garantiu sua vitória, incluindo, sobretudo, os segmentos mais conservadores e empresariais.
Outros nomes anunciados foram mantidos da Gestão Greca: a secretária municipal do Meio Ambiente, Marilza Dias, a procuradora-geral do município, Vanessa Volpi, e o presidente da Urbs, Ogeny Pedro Maia Neto.
O deslocamento para a direita
Ao formar esse secretariado, Pimentel empurra sua gestão para um eixo mais à direita do que o governo anterior de Greca. Embora o atual prefeito também tenha adotado medidas alinhadas ao conservadorismo, como sua postura em relação ao meio ambiente e à segurança pública, Pimentel adota um discurso mais direto em sua aproximação com partidos e figuras associadas ao bolsonarismo e ao ultraliberalismo, como o NOVO.
Essa mudança de eixo pode gerar tensões com setores mais progressistas, que, durante o segundo turno, viram em Pimentel uma alternativa em um cenário polarizado entre ele e Cristina Graeml. O apoio de Deltan Dallagnol, que compôs a aliança de Pimentel, pode ser visto como uma tentativa de fortalecer a imagem de um governo que, apesar de oriundo do PSD, opta por um perfil de governança mais à direita. A escolha de Amália Tortato e a aproximação com figuras como Paulo Martins, assim como a ascensão de Marcelo Fachinello, são exemplos claros dessa reconfiguração.
O desafio para Pimentel será equilibrar os interesses desses diferentes grupos, mantendo o apoio de sua base política enquanto enfrenta as expectativas de um eleitorado que o escolheu para combater a polarização extrema, mas que agora vê sua administração tomando um caminho que, para muitos, se alinha mais com a agenda liberal e conservadora do que com a moderação prometida na campanha.