O projeto Mãos Solidárias, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), vai promover, em Minas Gerais e outros 10 estados, uma jornada de alfabetização de jovens e adultos nas periferias. Para participar da iniciativa, os interessados devem se matricular gratuitamente até o dia 15 de fevereiro.
A ação é vinculada ao decreto nº 12.048 de 2024, que instituiu o Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação da Educação de Jovens e Adultos. Em Minas Gerais, o objetivo é alfabetizar quase 2,5 mil pessoas.
Fruto de uma parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e com o Ministério da Educação (MEC), a jornada tem caráter nacional e também acontecerá em todos os estados da região Nordeste e em São Paulo. Ao todo, serão mais de 18 mil alfabetizados.
Priscila Araújo, coordenadora do Mãos Solidárias em Minas Gerais e integrante do MST, explica que a iniciativa está agora em fase de mobilização de educandos. Para o movimento, a alfabetização é um direito de todos os seres humanos.
“A nossa expectativa, em primeiro lugar, é garantir que esses jovens e adultos, educandos da jornada, saiam desse processo sabendo ler e escrever. Só isso, para essas pessoas, já faz parte da construção da dignidade. A alfabetização tem o poder, inclusive, de mudar a percepção das pessoas”, afirma.
No estado, o projeto Mãos Solidárias também atua com a distribuição de alimentos, coordenando uma cozinha solidária que distribui mais de 100 refeições, duas vezes por semana, feitas com insumos produzidos em áreas de reforma agrária e ofertadas para catadores de material reciclável e para a população em situação de rua de Belo Horizonte.
A jornada
Em Minas, a ação terá enfoque principal na região do Vale do Jequitinhonha, que ainda apresenta índices de analfabetismo próximos a 20% entre a população de 30 a 49 anos. Além disso, a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) também terá turmas de alfabetização voltadas para o público periférico.
A expectativa é de realizar 60 turmas no Vale do Jequitinhonha e 115 na RMBH, que serão compostas de 14 a 20 estudantes e acompanhadas por professores, coordenadores de turma e coordenadores estaduais.
A proposta é que a formação tenha duração de 5 meses, com início em abril e aulas de duas horas, de segunda a quinta-feira. Os horários serão combinados com cada turma, de acordo com a disponibilidade dos educandos.
O formato dos encontros é composto por uma primeira parte, de 30 minutos, intitulada “novela”, que consiste em uma aula interativa por vídeo, e uma segunda parte, de 90 minutos, voltada ao aprendizado e ao debate coletivo.
Para Priscila Araújo, a iniciativa também incentiva o pensamento crítico e cria ferramentas para a modificação da realidade de comunidades marginalizadas.
“Também esperamos que os educandos possam despertar para as questões da própria comunidade. A ideia é que, a partir da alfabetização, essas pessoas entendam a importância e tenham formas de ler a realidade e de atuar sobre ela. A alfabetização é essa ferramenta, para que esses jovens e adultos possam intervir na realidade em que vivem”, destaca a coordenadora do Mãos Solidárias.
‘Sim, eu posso’
Para a alfabetização, a jornada aposta no método “sim, eu posso”. Desenvolvido pelo Instituto Pedagógico Latino-Americano e Caribenho (IPLAC) na década de 1990, em Cuba, a forma de atuação já é amplamente utilizada pelo MST, desde 2006, em sua luta pela erradicação do analfabetismo e tem dado bons resultados em todo o país.
O método cubano já foi aplicado em pelo menos 30 países e resultou em aproximadamente 10 milhões de pessoas alfabetizadas. No Brasil, já são cerca de 100 mil alfabetizados. Além disso, a proposta compreende a alfabetização como condição para a superação da desigualdade social.
O “sim, eu posso” baseia-se na identidade e no conhecimento construído pelos educandos ao longo de suas vidas e consiste em socializar o processo de alfabetização a partir das tradições culturais e identitárias das turmas.
A construção da jornada funda-se, ainda, na expertise acumulada pelo próprio movimento, que tem sua matriz pedagógica vinculada à luta contra as desigualdades e à educação popular, inspirados em Paulo Freire e na pedagogia da práxis.
O decreto e o analfabetismo no Brasil
Publicado pelo governo federal em 5 de junho de 2024, o decreto nº 12.048 institui o Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação da Educação de Jovens e Adultos “com a finalidade de apoiar os estados, o Distrito Federal e os municípios na superação do analfabetismo e na qualificação da educação de jovens e adultos (EJA)”.
Além disso, o pacto é pautado por diversos eixos, entre eles governança e participação social; estratégias e desenhos diferenciados para expansão da EJA; e formação dos profissionais da educação e dos educadores populares.
De acordo com o Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022, 7% dos brasileiros acima de 15 anos de idade não eram alfabetizados, o que significa que 11,4 milhões de pessoas não sabiam ler e escrever um bilhete simples.
Embora a taxa tenha caído em comparação com o levantamento de 2010 ainda representa um número alarmante, principalmente para populações marginalizadas. A mesma pesquisa revelou que as taxas de analfabetismo de pretos (10,1%) e pardos (8,8%) são mais que o dobro da taxa dos brancos (4,3%).
Serviço
As matrículas para a participação no projeto vão até o dia 15 de fevereiro. Para participar, é necessário ter mais de 15 anos e não estar vinculado a nenhuma escola. As inscrições estão sendo realizadas pelos mobilizadores de cada região e nas paróquias de igrejas locais. Para saber mais informações e se inscrever, entre em contato pelo telefone (31) 98021-5934 ou pelo perfil no Instagram @maos_solidariasmg