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Efetivação de políticas públicas para pessoas trans e travestis: cirurgias de afirmação de gênero

Acredito que estamos chegando a um momento histórico feito a muitas mãos

Na manhã do dia 25 de novembro aconteceu uma reunião da sociedade civil e dos representantes para falar sobre o ambulatório trans de Curitiba e o Centro de Atendimento e pesquisa de Travestis e Transexuais (CPATT), que é referência no atendimento a hormonioterapia. Toda a demanda vinda do interior do Paraná, de homens e mulheres transexuais e travesti, são acolhidas por profissionais que fazem um atendimento humanizado. O CPATT terá no futuro um papel muito importante, pois nesta reunião, a equipe técnica do Hospital de Clínicas (HC) anunciou que, até o final do ano, serão realizadas duas cirurgias para homens trans: a mastectomia (retirada da mama) e histerictomia (retirada do útero).

Há mais de 10 anos o movimento social dialoga com governo, tenta entender a burocratização da capacitação e a dificuldade de implementar as portarias do Ministério da Saúde, a 2803/2013 e a 2836/2011, que falam da saúde LGBT e principalmente as cirurgias de afirmação de gênero. Nacionalmente, vemos a dificuldade de pessoas trans acessarem as cirurgias, alguns estados se fecharam para atender a demanda interna, como é o caso de São Paulo. Já outros tiveram o sistema de saúde desmontados como o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul.

Segundo a advogada Gisele Szmidt, é inadmissível que o SUS ainda não tenha um fluxo constante de cirurgias de redesignação sexual. "Estamos há décadas esperando para termos uma vida plena e sermos totalmente inseridas na sociedade. Escusa de que não há médicos capacitados ou centro cirúrgico é inadmissível, considerando que o custeio das cirurgias poderiam ser repassado às clínicas particulares. A justiça já vem obrigando os planos de saúde a custearem essas cirurgias, acredito que vamos ter que acionar a justiça para obrigar o SUS a pagar, tal qual os planos de saúde pagam". Gisele é presidente da Comissão da Diversidade Sexual e Gênero da OAB-PR.


Gisele Szmidt é presidente da Comissão da Diversidade Sexual e Gênero da OAB-PR. / Foto: Arquivo Pessoal

Muitas instituições dialogaram, ao longa da última década, para a chegada desse avanço, como o Grupo Esperança, Instituto Márcio Marins, Grupo Dignidade, Grupo Liberdade, entre outras. Segundo a equipe do Hospital de Clínica, Dra. Renata, as cirurgias afirmativas de gênero de mulheres trans será o próximo passo.

Para essa colunista, acredito que estamos chegando a um momento histórico feito a muitas mãos, uma conquista coletiva. Sabemos da dificuldade e da complexidade das cirurgias para mulheres trans, seja porque a tabela SUS estava defasada, seja porque não tinha uma equipe capacitada, ou mesmo porque discutiam a Tripartite, ou seja, quem ia pagar, o estado, o município ou a federação. Acredito que isso foi sanado, com a postura do Secretário de Saúde Beto Preto. Olhar para nossas vulnerabilidades nos faz sentir pertencentes no SUS.

Para Fabian Algarte, representante do Instituto brasileiro de transmasculinidade (Ibrat), é importante que  o HC avance na execução das cirurgias para a população trans. "Sabemos que as cirurgias são importantes para a qualidade de vida da nossa população. Para transmasculinidades também é fundamental pensar no impacto direto que isso tem na nossa saúde física e mental, ampliando a construção e garantia da nossa dignidade", afirmou.

Para Carmem Costa, do Grupo Liberdade, o acesso às cirurgias de afirmação de gênero, garantirá que a população trans e travesti não se mutilem, tentando por si própria retirar sua genitália.


Leia outros artigos de Renata Borges em sua coluna no Brasil de Fato PR


As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato Paraná

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