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Visibilidade Trans: entre resistência e omissão

Somos o país que mais mata pessoas trans, condenando-nos a um ciclo de ódio, exclusão e negligência.

Hoje, no Dia da Visibilidade Trans, é inevitável perguntar: o que temos, de fato, para comemorar?

O Brasil segue liderando o ranking dos países que mais matam travestis e transexuais no mundo. Somos setenciadas a tentar viver em meio ao ódio, à intolerância e à violência. No dia 27 de janeiro, em um evento do Ministério dos Direitos Humanos, em Brasília, a presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) denunciou a crescente onda de ataques contra a população trans.

O discurso da extrema direita tem ganhado força, difundindo ideias rasas e distorcidas, como a chamada "ideologia de gênero", conceito criado por esse grupo para justificar perseguições. A insistência em pautas como o uso de banheiros serve apenas para nos segregar ainda mais. E essa onda de intolerância, que inicialmente teve como foco a comunidade trans, agora se volta com a mesma intensidade contra migrantes.

A esquerda também tem uma parcela gigante de culpa. Ainda somos excluídas de determinados espaços devido a um machismo gigantesco.

Justiça

Falar sobre visibilidade trans e travesti hoje é também reconhecer como a extrema direita usa táticas perversas para disseminar desinformação e justificar a violência. O discurso de "liberdade de expressão

Movimento

O Movimento Nacional de Travestis e Transexuais se reuniu em Brasília para traçar estratégias diante de uma guerra que nunca terminou. Continuamos sendo alvos de ódio. Durante a ditadura militar, a "Operação Tarântula" prendeu travestis e transexuais sob a justificativa de "vadiagem", violentando corpos e identidades apenas por existirem. Hoje, apesar dos avanços, a violência persiste, mas não a naturalizamos mais. Resistimos e nos articulamos.

Retrocesso

Quanto mais ódio é destilado à população trans, mais a esquerda se cala. Os ataques são calculados. A proibição da presença de crianças na Parada LGBTI+ é um exemplo claro de como tentam nos apagar. Quando a vereadora Jessicão (PL) propôs projetos transfóbicos para excluir pessoas trans do esporte, houve pouco ou nenhum movimento de resistência. Já quando ela propôs um projeto de lei proibindo crianças de frequentarem a Parada com seus pais, houve alguma reação. Mas os movimentos sociais no Paraná pouco fizeram, permitindo que a proposta seguisse para a capital.

Vida

No ano passado, 122 pessoas trans foram assassinadas no Brasil, 66% delas com menos de 35 anos. Essa é a realidade imposta à nossa comunidade. Então eu pergunto: temos expectativa de vida ou de morte?

E quando falamos de geração de emprego e renda, esse acesso chega até nós? Obviamente, não. Ainda somos empurradas para a prostituição em um país que se recusa a discutir a regulamentação da profissão e a criação de leis que garantam direitos básicos a essas mulheres.

O que posso dizer a você, leitor, é que, mesmo com vereadoras e deputadas trans eleitas, ainda somos poucas em um país que pulsa ódio e raiva. Um país onde a justiça normaliza discursos violentos sob a justificativa da "liberdade de expressão".

8 de janeiro

Os ataques de 8 de janeiro de 2023 revelaram um profundo desrespeito à diversidade cultural, étnica e, sobretudo, à democracia. Mas o que aconteceu naquele dia acontece conosco diariamente: nas esquinas, nos sites, nas redes sociais, onde "cidadãos de bem" se sentem autorizados a nos violentar da mesma forma que destruíram peças históricas do Brasil.

Mas o movimento trans e travesti tem história, tem planos e sabe para onde quer ir. Desde que Gisele Szmidt subiu à tribuna do Supremo Tribunal Federal, em 2017, para defender o direito à alteração de nome e gênero em cartório, aprendemos que ocupar é resistir.

Viva o movimento trans e travesti nacional!


Leia outros artigos de opinião de Renata Borges em sua coluna no Brasil de Fato PR.


*Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

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